quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

brincar com fogo

Da série "metáforas que eu nunca vou usar".

Me deixe brincar com o fogo e vê-lo se espalhando sobre minha pele.
Quero ver meu sangue ferver e minha alma entrar em ebulição.
Me queime para eu deixar de ser um fantasma preto e branco
Consuma toda minha sanidade para eu parar de vagar sem rumo
E me concentre apenas nessa sensação ardente.
Não me importo se for a última.
Queime e inflame minha alma sem cor e a transforme na cor pura e intensa
Vermelho
Azul
Preto
Branco.
Me queima e faz eu me esquecer de mim.
Minha alma é de vocês.




OMG, eu cometi um poema. D:

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Levando a sério - parte 2 (fanfictions)

Continuando com os assuntos sérios!

Caso você não tenha visto o post anterior, uma pequena explicação: estou falando sobre assuntos que são muito sérios para mim, mas que geralmente não são levados com a mesma consideração por outras pessoas.

Quando falo para alguém que eu escrevo FANFICTIONS, as pessoas me lançam aquele olhar de rabo de olho como quem diz "Ah, você é dessas." Isso quando a pessoa sabe o significado do termo, claro.

Mas dessas quem?

Vamos começar do começo! O termo "fanfiction" quer dizer, numa tradução literal, "ficção de fã", e é empregado para se referir a histórias feitas por fãs a partir de histórias já existentes (livros, filmes, desenhos, jogos, quadrinhos, séries, novelas, pessoas reais, etc). Praticamente TUDO pode virar fanfiction.

"Mas peraí!", diz você. "Eu já sei de tudo isso! Fanfictions são aquelas histórias escritas por fãs que não estão contentes com o final desse livro ou daquela série, e querem fazer a história do seu jeito! E escrevem tudo que eles gostariam que acontecesse e não aconteceu."

Falar que eu sou "dessas" seria então dizer que sou uma "dessas pessoas que criam um universo paralelo controlado por elas para que possam fugir da realidade, alimentando suas fantasias com personagens imaginários".

E é isso que pessoas que escrevem fanfictions fazem.

Certo?

Errado!

Eu não sei o que vem na cabeça das pessoas quando eu falo em fanfiction (se é que vem alguma coisa), então não conseguiria fazer uma comparação objetiva como fiz no post anterior, do tipo "Olha, vocês pensam isso, mas na verdade é aquilo".

Acho que a primeira coisa que precisa ficar clara é que fanfiction é, ou melhor, pode ser literatura. Digo "pode ser" porque sei que por aí há bastante gente que se enquadra exatamente no "alimentando suas fantasias com personagens imaginários", escrevendo nada mais e nada menos do que aquilo que eles gostariam que acontecesse com eles, e em geral a qualidade desse tipo de trabalho é bem fraca. Não me atreveria a dizer que eles são maioria, pois a minha base é um fórum que participo e lá a maioria, pelo que vejo, não é "desses". Mas também não posso afirmar com certeza que são minoria. Voltemos!

Certo, se fanfic não serve para você modificar as histórias já existentes ao seu bel-prazer, pra que serve então? Ou, reformulando melhor a pergunta, por que você escreve fanfictions?

Essa é uma pergunta que posso responder apenas em meu nome. Mas, de acordo com alguns textos que tenho lido, me atreveria a dizer que é um sentimento compartilhado por várias pessoas.

Eu escrevo fanfictions porque aquela história específica provocou alguma inquietação em mim, não simplesmente um "gosto de quero mais", mas uma vontade de ir mais fundo naquele universo, de explorar mais esse ou aquele personagens e experimentar, abrir seu leque de emoções. Como ele reagiria nessa ou naquela situação? Será que eu compreendi realmente o personagem e a história?

Isso tudo é culpa dos universos maravilhosos e personagens apaixonantes criados pelos escritores, roteiristas, diretores, criadores de desenhos e quadrinhos.

Certo, e se é tão legal e tão mágico por que você não vai lá e cria seus próprios personagens e suas próprias histórias?

Bem, aí é que está. Eu tenho meus personagens e minhas histórias. Mas gosto de escrever fanfictions porque gosto de explorar esses outros universos e personagens, já criados, que me encantam. E ao escrever me deixo levar por suas emoções, como se eles estivessem escrevendo a história e não eu - os personagens não precisam ser meus para que isso aconteça. Por isso, digo e repito que escrever fanfiction não é simplesmente escrever aquilo que você gostaria que acontecesse. Os personagens também têm a sua voz.

E devo dizer que, para aqueles que almejam um dia escrever suas próprias histórias, ou mesmo para aqueles que já escrevem, é um ótimo exercício. Criar personagens consistentes do zero é realmente muito difícil, ainda mais se tiver que inseri-los em um universo também criado. Trabalhar personagens já existentes e desenvolver suas emoções e ações em diferentes cenários pode ser um ótimo treino antes de se aventurar no novo.

Bem, acho que posso encerrar por aqui. Se por acaso ficou curioso(a) em relação ao que eu escrevo, uma das minhas fanfictions pode ser lida aqui. Se já leu até aqui, não custa dar uma espiadinha, né?

E aí, levou a sério, agora? ;)

(Gostou? Interessou? Para saber mais: FanFiction.net. E esse é o fórum de que participohttp://s1.zetaboards.com/Need_for_Fic/index/ )

Levando a sério - parte 1

Às vezes eu tenho a impressão de que, quando falo em certos assuntos, as pessoas não me levam a sério.

Não aqui. Não tenho esse problema no blog. Aliás, não tenho esse problema por escrito. Penso que é muito mais fácil levar uma pessoa a sério por escrito do que pessoalmente. Ainda mais eu, cheia de inseguranças e medo de falar em público e bla bla bla.

Mas enfim. Esse post é destinado para aquelas pessoas que não levam a sério certas coisas que eu falo, não por maldade, mas simplesmente porque não entendem os significados dessas coisas para mim. E que elas são realmente SÉRIAS.

Essas pessoas geralmente não lêem o meu blog, creio eu... mas não custa tentar!

Vou me direcionar para dois assuntos que, quando menciono, as pessoas me dirigem "aquele" olhar: HANSON e FANFICTIONS.

Esse post acabou ficando maior do que eu queria, então vou separá-lo em dois posts e falar de uma coisa em cada um.

Vamos aproveitar que faz dois dias apenas que fui no show e começar por HANSON.

Hoje resolvi começar com uma abordagem diferente, mais imagética do que só por texto (isso significa que será o primeiro post com fotos, YAY!). Acho que traduz bem o que eu quero passar.

O que vem na cabeça das pessoas quando eu falo em Hanson:



A que eu estou realmente me referindo quando eu falo em Hanson:



Ok. Colocada a diferença assim parece um tanto chocante, né? Geralmente o pensamento mais comum é "Hanson? Aqueles loirinhos de MMMbop? Eles ainda EXISTEM?"

E a resposta é SIM, eles EXISTEM, e vou dizer que pra mim existem muito mais do que muita gente. E mais, eles ainda tocam, ainda fazem música, continuam tocando juntos (e unidos) e evoluíram muito mais nesses 14 anos de estrada do que muitas bandas que conheço.

Quando eu falo que eu gosto de Hanson, que eu fui ao show dos Hanson, eu estou falando sério. Hanson para mim não é só uma banda bonitinha de músicas legaizinhas. As músicas deles falam comigo como se tocassem na alma e traduzissem sentimentos. E eu sei que elas são realmente sinceras, porque esses rapazes aí não quiseram sucumbir à imposição da mídia. Quando a gravadora recusava música atrás de música porque não era o que eles procuravam, eles romperam o contratato e criaram a própria gravadora, lançaram o CD e fizeram turnê. Ou seja, a gravadora realmente não compreendia as músicas dele, não enxergava o quão bons eles são.

Mas há um preço em ser independente. Você não deve ter ouvido eles nas rádios, né? Pois é. Por isso que você não tem ouvido falar deles.

Ahá! Então quer dizer que eles não fazem mais sucesso. E você é só mais uma fã insistente que continua desesperadamente procurando sobre eles em cantos obscuros da internet.

PÉÉÉ! 

Errado. Eles são a banda indie com mais sucesso nos EUA e continuam lançando álbuns e fazendo shows (o último aqui em São Paulo encheu bem mais que o esperado).

E uma vez entendido isso, não assuma que você sabe do que estou falando se tudo o que vem na sua cabeça quando falo neles são três garotinhos loirinhos cantando um pop animadinho e sem significado. As músicas deles são incrivelmente carregadas de sentimentos, e sentimentos reais.

Eu imagino que as pessoas não vão ter paciência pra ficar vendo clipes, mas se você quiser entender a diferença e a evolução da banda nesses anos, peço para ouvir (nem que seja um trecho de cada) MMMBop (pra recordar!), de 97, e depois comparar com o vídeo de baixo, uma música do álbum novo que eles lançaram esse ano, Shout it Out.

MMMBop (1997)


Ah! Pra quem ainda não aprendeu, é:
MMMbop, ba du ba dop ba du bop, 
ba du ba dop ba du bop, 
badu ba dop ba du (yeah, yeah!)

And I Waited (2011)


Só pra constar, quem canta essa é o Zac (baterista, mais novo dos 3).


E aqui termino a primeira parte das coisas sérias. (:

sábado, 15 de outubro de 2011

Cansaço

Bom dia.

Aparentemente eu não faço muito sucesso quando escrevo sério nesse blog (não que eu fizesse muito). Ou vai ver as pessoas só tem preguiça de ler muito coisa. É.

Não estou reclamando! Só constatando.

Então estou eu aqui de volta para voltar a alimentar o meu mau hábito: falar de mim.

Cheguei à conclusão de que a minha inspiração vem com o cansaço. Ela funciona melhor tarde da noite. A partir da meia-noite o crescimento é exponencial.

Mas o meu sono também tem um crescimento exponencial. E a filha da mãe da minha inspiração funciona lindamente quando eu estou caindo de sono o suficiente para não conseguir manter os olhos abertos na frente da tela do computador.

Eu queria ter uma conexão USB na cabeça pra poder passar tudo pra um arquivo enquanto eu estivesse dormindo. É tudo tão claro e óbvio nessas horas que eu acho que nem preciso me dar ao trabalho de escrever ou anotar em algum lugar. Obviamente eu vou me lembrar de tudo quando acordar.

Mas ainda bem que eu me forço a escrever em qualquer lugar - no celular, que seja - porque no dia seguinte tudo se foi. Acho que a minha inspiração é uma vampira. Ela odeia luz do dia.

E nem as minhas anotações parecem tão legais assim no dia anterior.

E aí, né... eu fico aqui, olhando inutilmente pro cursor piscando, tendo a doce ilusão de que vou conseguir continuar de onde parei. Mas é claro que não vou conseguir. Se não, eu não estaria aqui escrevendo sobre o quanto a minha inspiração é traiçoeira, e sim continuando o texto da noite anterior.

SIm, ela é traiçoeira e cruel... mas não tem como não se viciar. Se inspiração fosse uma droga, eu já teria que estar em uma clínica de reabilitação.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Resenha - A História do Ladrão de Corpos

Atenção: O texto que se segue pode conter alguns spoilers.

     Já vi muitas resenhas sobre o 4º livro das Crônicas Vampirescas de Anne Rice. E a maioria delas falava mal. Bem mal.
     Tão mal que cheguei a considerar nem comprar o livro e passar direto para O Vampiro Armand.
     Mas eu não fiz isso, como vocês podem perceber. Senão não estaria aqui, fazendo o primeiro post sério do meu blog.
     E que bom que não fiz isso, que tomei coragem e li o livro. Assim pude confirmar que não há nada que substitua suas próprias conclusões.
     O livro é ótimo. Tem seus altos e baixos, como geralmente possui a maioria dos livros. Mas no geral, está à altura dos livros anteriores. Achar esta ou aquela história mais interessante pode ser opinião pessoal (eu ainda acho O Vampiro Lestat e A Rainha dos Condenados os melhores livros), mas o fato é que eu vi nessa história o mesmo Lestat dos outros dois livros, e também a mesma Rice.
     Li de tudo um pouco nas resenhas que procurei, inclusive coisas absurdas como "não é o mesmo Lestat", "a Anne Rice devia estar sofrendo de um bloqueio criativo", "a história não tem criatividade", etc.
     Mas a coisa mais absurda que eu li foi a opinião de alguém - não me lembro quem nem em que blog - dizendo que ficamos o tempo todo torcendo para que Lestat não faça uma besteira que claramente vai dar errado, e ele vai lá e faz. Ou seja, esta pessoa acha que Lestat não devia ter feito o que ele faz no livro.
     Mas vamos ser mais claros. O livro é sobre o encontro de Lestat com Raglan James, um especialista em viagens extracorpóreas e possessão de corpos. Ou seja, um Ladrão de Corpos. James vem lhe fazer a seguinte proposta: trocar de corpo com ele por 24 horas, para que ele se lembre de como é ser humano, e para que ele possa saber o que é ser um vampiro.
     Lestat, extremamente tentado na proposta mas ainda desconfiado, vai procurar conselhos - e claro, todos lhe falam para recusar. É algo que tem muito potencial para dar errado. O que fazer se ele não conseguir voltar para o corpo dele? Se o ladrão fugir com seu corpo e não aceitar fazer a troca de volta?
     É claro, se eu fosse personagem do livro, eu também teria dito a mesma coisa. E Lestat sabe de todos os riscos.
    Mas Lestat aceita a proposta. E adivinhem? Sim, tudo dá errado. O ladrão o abandona e foge com seu corpo. E então ele, agora como um simples mortal, tem que ir atrás para tentar recuperá-lo.
     É compreensível que ele tenha aceitado. Ele mesmo, como narrador do livro, faz questão de explicar o momento pelo qual está passando para que entendamos a decisão dele. Ele estava, se me permitem a expressão, numa espécie de depressão vampírica; ele viveu plenamente sua imortalidade no seu século de origem, desafiou outros vampiros, descobriu segredos que nem mesmo outros vampiros sabiam, decaiu; renasceu das cinzas na década de 80, onde atingiu seu auge como cantor de rock, e quando parecia que não poderia subir mais, atingiu seu verdadeiro apogeu ao ser escolhido como amante por Akasha, a vampira original, que partilhou seus poderes com ele.
     E depois de tudo isso, o que lhe restava? Tudo tinha ficado para trás e deixado um ser verdadeiramente imortal, com poderes incalculáveis. Ele poderia fazer o que quisesse, ir para onde quiser. O que ele não poderia fazer, o que ele ainda não tinha atingido?
     O desejo secreto de todo vampiro. Ser humano novamente. A única coisa que ele sentia falta era de seus dias como humano. O que esperar então de um vampiro como Lestat, de um ser como Lestat, cujo propósito na vida é viver em busca de sensações intensas, diante de uma proposta como aquela?
      Às favas com os riscos. É óbvio que ele aceitaria.
     Aliás, achar que ele não devia aceitar é a mesma coisa que achar que Anakin não devia ter ido para o lado negro. Que Light Yagami devia ter deixado de lado aquele caderno maldito, que diz que mata quem tiver ali o nome escrito. Que a Bela Adormecida não devia ter tocado no fuso da roca. Que a Branca de Neve não devia ter aceitado a droga da maçã!
     E aí? E aí não teria história. Caso alguém ainda não saiba, são assim que são feitas as histórias - ou, pelo menos, as narrativas clássicas: existe um equilíbrio, esse equilíbrio é quebrado, e a história se move então para que esse equilíbrio seja restituído.
     Outra coisa. Os nossos heróis não são perfeitos e racionais o tempo todo. Eles também têm sentimentos, eles também falham. E a maioria das pessoas não gosta muito de ver seus heróis falhando.
     No livro, Lestat diz que todos sempre o admiraram por ser impetuoso, mas quando demonstrou fraqueza todos lhe voltaram as costas. E é isso que os leitores que disseram essas coisas fizeram. E se não entenderam porque ele fez aquela escolha, é porque não entendem o personagem. Desculpa. Ele está pleno naquele livro, assim como está pleno nos outros dois.
     Voltando às narrativas clássicas, geralmente o personagem se transforma depois de uma experiência como essa, e foi o que aconteceu. Serviu para Lestat assumir para si mesmo que, na verdade, ele estava feliz como vampiro. Gostava de ser vampiro. Ser vivo é muito difícil! Ele mesmo assume isso.
      E todos nós sabemos disso. É claro que é mais fácil ser vampiro! Imagine ser imortal... quantos de nós não teríamos dito "sim" caso Lestat aparecesse e nos convidasse para as trevas?
      Mas imagine já ser imortal por 200 anos, e mal se lembrar de como é ver o sol, beber vinho, comer ou fazer sexo.
     Voltando ao que eu disse, é compreensível sim o fato de que ele escolhe fazer a troca, sem pensar direito nos riscos. E sim, a história também é boa. Anne Rice tem um domínio de sentimentos e sensações humanas sem tamanho. Já é difícil pensar como um imortal se sentiria (você conhece algum imortal?), imagine então um imortal diante da possibilidade de voltar a ser humano. E a inaptidão de Lestat ao lidar com um corpo mortal! Ao lidar com as dificuldades humanas do dia-a-dia... que coisa mais graciosamente bem-escrita! Falta de criatividade? Queria eu ter essa falta de criatividade!

     Bom, essa é a minha opinião. Você pode discordar. Mas essa vai continuar sendo a minha opinião.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Morte Piedosa (fanfiction)

E depois de meses sem atualizar, eis que surjo com uma fanfiction. Tava na hora de publicar algo assim, eu acho.
Essa é pra quem gosta de Entrevista com o Vampiro.

Pra quem não leu Entrevista com o Vampiro nem viu o filme, uma rápida contextualização (com spoilers...sorry): Cláudia era uma garotinha que Louis havia mordido, e pensara que estava morta, até que Lestat a trouxe para ele e a transformou em vampira. Eles viveram mais de 30 anos juntos, até que Cláudia tentou matar Lestat e ela e Louis fugiram. Quando estavam em Paris, encontraram o Teatro dos Vampiros, comandado por Armand. Lá, existia uma congregação de vampiros que considerava o que Cláudia havia feito um pecado mortal, e por isso ela foi morta por eles.
Outra observação, o livro que me baseio é A Rainha dos Condenados, narrado pelo Lestat, mas como é um POV do Louis eu dei preferência ao estilo de Entrevista com o Vampiro (narrado por ele).
Enjoy! (:

Morte Piedosa

Eu gostaria que estivesse nevando naquela noite. Estava frio o suficiente para isso. Mas o céu parecia se recusar a ouvir meu pedido, assim como eu recusara a acompanhar Lestat em sua caçada. Ele não precisava mais disso, dissera. Então por que continuá-lo?

De qualquer forma, eu havia recusado. E não havia sido completamente verdadeiro em minhas palavras. Desejava agora, talvez mais do que nunca, sua companhia. Mas havia algo dentro de mim, um pensamento que persistia já há algum tempo, uma cisma... Não, mais do que isso.

Morte. O maior êxtase para um vampiro é sentir os batimentos do coração humano lutarem desesperadamente para viver no último instante, enfraquecendo enquanto todo o fluxo de sua vida flui para nossas gargantas. O maior êxtase, meu melhor e às vezes único momento de paz, e ainda a maior culpa para mim.

“Você é o mais predatório entre todos os imortais aqui presentes: mata sem se preocupar com a idade, o sexo ou a vontade de viver.” [1]

A voz dela, da Mãe [2], ou da Rainha dos Condenados como Lestat a nomeava em seu livro, ainda ecoava em meus pensamentos.

Eu tinha plena consciência disso, de que matava indiscriminadamente. Essa era a maneira que eu havia encontrado para assumir minha natureza de condenado. Mas apesar disso, e Lestat fazia questão de lembrar, isso nunca foi algo que eu realmente superei.

Com o frio que fazia, mesmo numa cidade grande, a maioria das pessoas estava em casa. Ainda mais numa rua de bairro como aquela, onde minha única companhia, fora o céu sem estrelas e as paredes acinzentadas, eram os imensos postes de luz – inconcebíveis duzentos anos atrás perto dos lampiões de luzes amareladas.

Aquela luz iluminava demais, e nos fazia parecer ainda mais fantasmagóricos. Estando já há algum tempo sem me alimentar, era muito provável que eu assustasse um humano que estivesse passando por ali. A rua, porém, estava deserta. Os únicos ruídos que eu podia ouvir eram o chiado dos aparelhos de televisão dentro das casas, e o zumbido constante das lâmpadas nos postes.

Eu não saberia dizer o que eu estava procurando, e ainda não sei. Mas talvez eu tenha encontrado. Ou, como costuma acontecer comigo, foi ela que me encontrou.

Era uma presença ínfima. Eu acreditaria que fosse um animalzinho ferido, se não fosse o choro constante e baixo, extremamente humano.

Aquilo imediatamente trouxe uma lembrança das mais dolorosas à minha mente. A criança doente, que encontrei à beira da morte chorando sobre o cadáver da mãe, no meio de uma vila desolada pela peste. A criança que viria a se tornar minha filha e ao mesmo tempo amante imortal, por um erro meu e um capricho de Lestat.

Cláudia... Acho que cheguei a murmurar seu nome, enquanto apertava meu passo em direção ao beco escuro, onde as luzes dos postes mal chegavam.

Minha mente parecia estar querendo me pregar uma peça. Eu sabia que não poderia ser ela, tinha que ser uma alucinação – e ainda assim seu rosto angelical era a única coisa que eu tinha em mente quando cheguei até o beco.

Era real. Uma menina, mais velha do que Cláudia. Tinha cabelos negros, a pele muito clara. O corpo estava começando a assumir formas de mulher, a julgar pelos seios que despontavam timidamente e a curva quase inexistente da cintura.

Estava chorando, e seu frágil corpo sacudia a cada soluço de cortar o coração. Usava uma roupa excessivamente vulgar, uma blusa decotada e uma saia curta, que contrastavam imensamente com suas feições de menina.

Ela ainda não tinha me visto. Enxugou as lágrimas, a maquiagem carregada borrando seu rosto e suas mãos.

O que era aquela figura? Um anjo caído, um pequeno ser que tivera as asas cortadas e fora obrigado a cair no inferno que é aqui embaixo. Enquanto minha Cláudia escondia uma malícia perturbadora dentro de um corpo de querubim, aquela garota parecia justamente o contrário. Um anjo travestido de demônio, ainda conservando toda a inocência e fragilidade que possuía. Cláudia era uma mulher presa num corpo de criança, e aquele ser que eu via agora era uma criança a quem obrigaram muito cedo a se transformar em mulher.

A ironia cruel daquilo tudo me atingiu em cheio, deixando-me tonto. Mas não foi o suficiente para impedir que eu me aproximasse dela. Por que eu estava sendo atraído? Por piedade? Por sua semelhança com Cláudia? Ou era apenas a minha sede insuportável?

Ajoelhei-me ao seu lado e estendi minha mão para tocá-la. Ela me viu, assustou-se e encolheu-se ainda mais, encarando-me como se eu fosse seu predador. Agora que podia ver seu rosto mais claramente, reparei em vários pequenos hematomas.

- Meu anjo, o que fizeram com você? – murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

Minha mão continuava estendida no ar. De quantas maneiras erradas a haviam tocado, para ela recusar minha aproximação daquele jeito? Ela me encarava, seu olhos rasos de lágrimas, o lábio inferior trêmulo. Mesmo àquela distância eu podia sentir seu calor. A despeito do frio, ela estava surpreendentemente quente. Tão quente que provavelmente estava febril.

Aos poucos, o choque da minha aproximação foi se abrandando em suas feições. Talvez fosse minha voz sobrenatural, ou a minha palidez excessiva, ou simplesmente um delírio de febre. Fosse o que fosse, estendi meus dedos e toquei seu rosto. Ela não se moveu. Continuava olhando-me nos olhos, e de repente pareceu compreender alguma coisa que eu mesmo não havia percebido.

- Você... – ela murmurou, um fio de voz saindo de seus lábios delicados. – Veio me buscar?

- Buscar... – repeti a palavra, como se aquilo me ajudasse a lhe dar um sentido.

- Vai me levar para o céu... Não vai? – seus olhos voltaram a se encher de lágrimas.

Senti os meus olhos também encherem-se de lágrimas, e a abracei, trazendo seu rosto para junto de meu peito. Ela não ofereceu nenhuma resistência, agarrando-se à mim como se eu, com meu corpo gelado, pudesse mantê-la aquecida.

O que eu era para ela? Um anjo? A morte? Sentia suas lágrimas quentes molhando a frente do meu casaco, e a trouxe ainda mais para mim.

- Sim, minha querida... – murmurei, próximo ao seu ouvido. – Vamos para o céu, e não haverá mais dor. Ninguém mais poderá tocá-la.

Ela concordou com a cabeça, chorando baixinho. Levantei-me, segurando-a no colo, e beijei seu rosto úmido, sentindo meus lábios queimarem de encontro àquela pele quente. Podia ouvir seu sangue pulsando. Inebriado pelo calor e pelo gosto salgado das lágrimas, desci meus lábios e cravei os dentes em seu pescoço. O sangue quente, escaldante, jorrou imediatamente para a minha garganta. Seus dedos apertaram-se contra meu corpo; ela estremeceu.

Sangue inocente correndo pelas minhas entranhas! Seu coração era como um tambor em meus tímpanos, resistindo bravamente, agarrando-se à vida, apesar do seu desejo em deixar este mundo.

Minha respiração ficava mais forte à medida que a dela ficava fraca; mergulhei por completo naquela sensação por longos minutos, até que seu aperto em volta de mim começou a afrouxar.

Um suspiro, um gemido fraco, e ela pendeu inerte em meus braços. Tonto, cheio de sangue quente correndo pelas veias, ajoelhei-me novamente e apoiei seu corpo sem vida no chão. Olhei para seu rosto ainda molhado de lágrimas e toquei-o novamente. Esfriava rápido. Seu calor estava agora em mim.

Vi minhas próprias lágrimas caírem sobre sua pele alva, manchando-a de vermelho. Um anjo caído. Um anjo morto.

Olhei para o céu, as lágrimas vertendo sem parar. Não importava o quanto eu procurasse; quanto mais eu buscava a verdade, mais eu acabava afogado em mentiras. Ela era uma mentira, uma menina em roupas de mulher. Assim como Cláudia tinha sido uma mentira, uma ilusão doentia criada por Lestat de uma família perfeita.

Assim como eu era uma mentira. Tinha sido para aquela garotinha seu anjo, seu salvador, e no entanto não era melhor do que qualquer outro predador que ela tivesse encontrado.

Cláudia... Eu a amei desde o momento em que seus bracinhos rodearam meu pescoço. E eu amava aquele delicado ser imóvel à minha frente, para quem eu tinha sido a mais sincera de todas as mentiras.

Ouvi uma gargalhada explodir atrás de mim. Assustado, olhei para trás e vi Lestat apoiado na entrada do beco.

- Ah, Louis – ele balançou a cabeça, sorrindo. – Se eu não o conhecesse, diria que são lágrimas de crocodilo!

- Lestat, por favor – comecei, desviando o olhar dele. – Deixe-me em paz.

Ele me ignorou, aproximando-se e ajoelhando ao meu lado. Olhou para a garota, e depois para mim.

- Louis, o piedoso! É assim que deviam chamá-lo! - tornou a rir, deixando à mostra os caninos brancos.

- Pare com isso! – explodi, zangando-me. – É desprezível.

O sorriso dele se desfez. Ele me encarou, segurando meu rosto com ambas as mãos.

- Faço isso porque estou feliz. Você continua quase tão humano quanto no dia em que o transformei! Não vê que é por isso que o amo?

Ele me beijou em ambas as faces, onde as lágrimas tintas de sangue haviam escorrido. Abrandei minha expressão, baixando meus olhos mais uma vez para a garota morta.

- Sou humano porque minto? – sorri, amargo. – Mentira, é tudo mentira. Sempre.

- Louis, não há nada no mundo mais sincero do que as suas mentiras.

Voltei meus olhos para ele, encarando suas pupilas acinzentadas. Ele estava sorrindo novamente. Franzi o cenho, tentando, sem sucesso, desvendar seu olhar.

Ele aproximou os lábios de meu ouvido.

- Nas pequenas mentiras você confessa as suas verdades – sussurrou. - E isso você não pode negar.

Soltei um suspiro, escondendo o rosto nas mãos. De um modo ou de outro, eu nunca conseguiria escapar.

- Venha – ele continuou, levantando-se e segurando-me pelas mãos. – Vamos para casa.

Permiti que ele me levantasse e o segui, deixando o corpo da garota para trás.

Estava começando a nevar.



Notas

[1] A Rainha dos Condenados, pág. 532.

[2] Louis se refere a Akasha, a vampira original dos livros de Anne Rice.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mau hábito

Hoje eu sonhei com o Lestat.

Estava pensando que deveria parar de escrever essas bobagens no meu blog e voltar a escrever no meu diário comum. Porque o que eu devia escrever aqui textos que as oessoas querem ler, ne não só aquilo que eu quero dizer. Corro o risco de estar me abrindo demais, além da possibilidade de as pessoas não me entenderem completamente.

E depois, eu fico escrevendo isso e deixo de escrever o que eu queria, as coisas que queria escrever inicialmente, quando criei esse blog. E isso vai se tornando um mau hábito.

Mas, enfim, hoje eu sonhei com o Lestat. E agora, ao continuar a escrever uma fic, me senti mais íntima dele do que nunca.

Não contem isso pra tia Anne Rice. Acho que ela não ia gostar.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Hora dos Vampiros

Eu não ia escrever isso. Eu não queria que as pessoas lessem.
Mas sei lá... De repente, percebi que eu quero, sim.

Eu queria estar no pé de uma lareira. Sentada em um sofá confortável, com um cobertor...
Ninguém em casa. Ninguém lá fora.
Um livro aberto no braço do sofá, um chá quentinho nas mãos.
Lá fora, as copas das árvores balançam. O vento ruge alto, mas ele não vai me atingir.
O sol já se pôs, e a claridade vai desaparecendo. Fica cada vez mais escuro, enquanto a hora dos vampiros se aproxima.

terça-feira, 26 de abril de 2011

I just... can't.

Acho que estão começando a aparecer aquelas loucuras que surgem quando você fica em casa muito tempo. Muito tempo sozinha no quarto. Já estou cansando de depender do F5 pra fazer as coisas andarem. Ninguém está falando comigo, mas eu também não sei se quero falar.
Os fantasmas da inspiração vêm me assombrar, girar minha cadeira e minha cabeça, me fazer pensar em mil coisas. Falam comigo pelas vozes de outros. Aquela música nunca pareceu assim tão sombria. Eu nunca tinha tido vontade de chorar por isso ou por aquilo. Aquela sensação nunca foi tão intensa.
Não era isso que eu queria. Essa era a hora de ter tido inspiração, mas pra outra coisa. Pra alegrar uma pessoa. E agora eu perdi o momento, porque estão me puxando para outro lado.
Quase sinto o momento indo embora. Não posso perder, não posso... volta, por favor. Fique comigo.
Se eu não escrever agora e perder essa oportunidade inoportuna, eu nunca vou me perdoar.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

The Crow Black Dream

Minha primeira fic publicada aqui. Que emoção!

"Oh don't talk of love" the shadows purr
Murmuring me away from you
Don't talk of words that never were
The end is all that's ever true
There's nothing you can ever say
Nothing you can ever do..."
Still every night I burn
Every night I scream your name
Every night I burn
Every night the dream's the same

(Burn - The Cure)

Oh. Então estava chovendo de novo.

Foi o que ele constatou, olhando pela janela estraçalhada, sentado numa poltrona esfarrapada. As pernas posicionadas de um jeito displicente, a cabeça jogada de lado no encosto da poltrona, alguns cachos negros do cabelo longo cobrindo-lhe o rosto.

Não pode chover o tempo todo.

Ou pode?

Um clarão de relâmpago iluminou momentaneamente o quarto, e a ele. A roupa negra, o rosto quadrado, o porte musculoso. Em seguida, o trovão - que abafou por alguns segundos a música que tocava, e que o entorpecia de um certo modo, por sua levada pesada e lenta de guitarra.

Ele girou a cabeça para o outro lado, preguiçosamente, olhando para as paredes rubras, iluminadas por velas. Ah, aquelas paredes vermelhas... se elas falassem... contariam toda a sua vida, a sua tão curta e tão longa existência de 20 e poucos anos.

Os olhares, os sorrisos, os beijos, as carícias, os sussurros...

Os gemidos...

"Shelly..."

Se as paredes falassem naquele momento...

Elas iriam GRITAR, gritar de tristeza pela perda, pela saudade, por aquela existência em preto e branco, pela dor da própria morte, e pela dor maior de voltar à vida e encontrá-la vazia. E depois de descarregarem a tristeza, as paredes iriam urrar, clamar pela única coisa que o mantém vivo, pela sua única razão de estar ali...

...Vingança.

Ele fechou uma das mãos em punhos e respirou profundamente, deixando o ódio invadir sua alma, injetando vida em suas veias. Não podia ficar parado ali. Precisava acabar logo com isso.

Levantou-se e foi até o espelho estilhaçado. Sua maior arma contra si mesmo estava ali. O pó branco e o lápis preto, que mais uma vez o vestiam com uma máscara que escondia toda a sua tristeza para deixar transparecer o ódio e a sede de vingança.

Olhar-se no espelho foi como olhar para dentro de sua alma, ver seu espírito refletido em cacos de vidro.

Mas não doía mais ver a si mesmo. Não importava mais.

Vestiu o sobretudo e saltou para a janela. Iria atrás da única coisa que importava.

FIM

terça-feira, 15 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

Como contar os sonhos

Senti vontade de escrever isso depois do post anterior. Acabei por descobrir uma coisa bem curiosa, enquanto o escrevia. Desculpe se eu parecer um tanto repetitiva, mas achei que era bom escrever tudo que pensei.

Quando a gente vai contar um sonho, nós contamos do jeito errado. Tentamos fazer com que ele siga uma linha de causa e efeito e tenha um sentido narrativo, coisa que os sonhos não têm. Eles não fazem sentido como fazem as coisas no mundo físico. Eles têm seu próprio sentido, um sentido que precisamos procurar. E como encontrá-lo?
Bem, onde estão os sonhos? Dentro da nossa mente, certo? Então, eles fazem sentido seguindo alguma associação de nossa mente, e cada um tem a sua... Assim como cada um tem os seus sonhos. O que precisamos fazer é encontrar o sentido daquele sonho para nós.
O que foi o mais importante, o que ficou daquele sonho pra você? Foi o fato de que aquela flor se transformou em um ventilador, ou o simples fato de que você estava morrendo de calor e aquele vento fresco lhe proporcionou uma sensação indescritível?
Para descrever o que aquele sonho significou pra você e descobrir enfim uma forma de comunicar seu sentido (porque ele existe) precisamos simplesmente separar o supérfluo do mais importante - e importante é aquilo que foi importante pra você no momento do sonho.
E não tentar seguir uma linha de causa e efeito ou contar o sonho como uma simples sucessão de acontecimentos ilógicos. Aí vai parecer que você está só contando uma história sem sentido, e as pessoas não vão entender como e porquê aquilo é importante pra você. Os sonhos fazem sentido sim, nós só precisamos saber encontrá-lo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quebrar as novas regras

"- Quer partir em uma pequena aventura? - De repente meu coração estava disparado. Seria tão maravilhoso se... - Quer quebrar as novas regras?"
Lestat para Louis, em "A Rainha dos Condenados" - Anne Rice

Estou feliz de repente tendo um momento só meu, escrevendo do que eu gosto, ouvindo as músicas que eu quero e sem me preocupar muito com o resto do mundo. É a primeira vez também que escrevo aqui me preocupando em atrair a atenção de quem lê.
Mas aí é que está - como pode ser um momento só meu se eu estou me preocupando com os outros que vão ler?
Eu queria escrever sobre o meu sonho. Mas, se eu bem me lembro, havia estabelecido para mim mesma a "regra" de não falar aqui nada muito pessoal, porque estaria sujeita a comentários que eu poderia não querer ler. Então essas coisas ficariam no meu diário.
Mas esse negócio de fazer regras pra uma coisa que tem que ser teoricamente livre não dá certo. Principalmente, para mim. Agora, eu quero que as pessoas leiam. Mesmo se não comentem, ou mesmo se comentem coisas que eu talvez preferisse não ler.
Mas pensar que eu ia manter um blog falando só de coisas externas sem nunca me tentar a falar dessas coisas era querer demais... Vide o post anterior.

Sempre que eu tenho esses sonhos eu fico o dia inteiro pensando neles e tentando recuperar o sentido, criar uma linha narrativa. Não é difícil eu acordar pensando que daria uma ótima fanfic ou conto, sendo que minutos depois eu vou me dar conta inevitavelmente de que isso é impossível, que aquilo não faz sentido nenhum. Mas não faz mal, eu vou passar o resto do dia pensando nele, em como seria bom se fosse de verdade, em como foi bom enquanto durou.

E, vez ou outra, eu acho alguém pra compartilhar esse sonho. Geralmente começa com "Nossa, tive um sonho muito legal hoje!", e eu bem empolgada pra contar meu sonho genial e esperando que a pessoa concorde comigo. Mas aí eu começo a descrever e descubro no meio do processo que é impossível passar pra pessoa o mesmo sentido que ele faz na minha mente. E aí eu já comecei... e no final geralmente eu tenho que acabar com um "é, eu sempre tenho os sonhos mais loucos". E ouvindo a pessoa rindo de mim, provavelmente pensando "era isso?". E todo aquele sentido lindo e maravilhoso que me fez ficar ouvindo músicas e tendo idéias o dia inteiro se desmorona num sorriso amarelo.

Bem, não é assim tão terrível, na verdade. É só frustrante. E não é culpa da pessoa que está me ouvindo. Um sonho é uma coisa íntima o bastante pra ter um sentido só para aquele que sonha. Não ia adiantar contar, seria impossível outra pessoa compartilhar do mesmo sentimento...

...ou talvez eu só esteja contando o sonho do jeito errado.
Talvez eu só nunca tenha dito o que realmente importou para mim no sonho. O que realmente fez sentido...
Provavelmente é porque isso, o que realmente importa, me deixa envergonhada. De falar.
Mas é por isso que eu escrevo, não é mesmo? Porque eu tenho vergonha de falar.

Oh my, estamos realmente quebrando as regras hoje. Eu nunca fiz um post tão íntimo.


Não importa que antes eu estivesse sonhando com casamentos ou com a Disney, importa é que esse sonho surgiu no meio. Os outros personagens não importam, aqueles que provavelmente vinham do Vampiro Americano, uma HQ que sai na Vertigo. Não importa o lugar, um supermercado, uma feira ou a rua. Não importa que os vampiros estivessem andando às quatro da tarde do lado de fora, ainda que estivesse bem nublado. Não importa a polícia desconfiando deles não-sei-porque, e a perseguição totalmente sem sentido que se seguiu. Não importa saber como um homem coube dentro de uma caixa de bonecas.

Nada disso importa. O que realmete importa é que eu estava lá, e eu era o Louis. E lá estava o Lestat, e eles eram aquele saídos da minha imaginação, os que vieram do livro, e não os atores do filme. Eu conversava com ele, e era realmente ele. Eu era o Louis e tinha que impedir o Lestat de fazer uma besteira, uma besteira que ele certalmente faria, porque era ele. E eu o conhecia, e eu sabia. E eu não queria que ele o fizesse, como o Louis não quereria. E eu saí correndo atrás dele, como o Louis sairia...

Naquele momento, eles existiram para mim.
E só para mim...
É isso que importa.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Clichê

Vazio.
Que clichê.
Chega até a irritar de tão clichê.
Mas eu queria escrever. Queria falar de coisas pessoais, apesar de não gostar de falar de coisas pessoais aqui.
Então eu sigo escrevendo e enfeitando, como sempre, deixando no ar... E continuo escrevendo, sem voltar pra trás e sem me corrigir. Preferia nem reler o que eu estou escrevendo
Escrever... o meu maior escape e minha maior satisfação, às vezes. Se torna uma tortura quando não vem à mente o que eu quero, ou o que eu espero. O medo de não estar perfeito, a irritação provocada pelas palavras triviais.
Clichês.
Odeio clichês.
Nem me lembro o motivo pelo qual eu estava escrevendo. Mas queria esse texto livre de clichês.
Talvez isso seja impossível...
Bem, pelo menos, aqueles que me irritam.
Estou irritada. E isso também é um clichê, eu acho.
Já me perdi. Como eu faço para voltar ao assunto?
Queria escrever e deixar a imaginação voar e não me preocupar em transgredir aquilo que já foi escrito. Mas a pior das lutar talvez seja contra minha própria cabeça.
Eu não quero voltar lá e ver que o meu trabalho ainda não foi reconhecido. Que aquela pessoa ainda nem ligou para o fato de que eu existo. Não é assim tão importante, afinal. Mas fere o meu ego.
Também não quero aparecer lá pedindo reconhecimento como uma criança que espera que todos admirem seu desenho rabiscado.
Só me resta esperar... Esperar também me irrita. Mas meu orgulho no momento é maior do que a minha irritação.
Também não gostaria que as pessoas que pudessem entender do que eu estou falando lessem isso daqui.
O certo seria não escrever na internet, então. Pra que escrever se há a possibilidade de lerem? E pra que escrever se os leitores podem não entender?
Isso deve deixar as pessoas irritadas.
Mas não importa. Eu estou irritada e queria falar.
Escrever.

Não vou me desculpar pelo post mau-humorado, mas você, se por acaso há um "você" a quem me dirijo, tem todo o direito de reclamar. Só, por favor, não me dêem conselhos.