sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Harder, Better, Faster, Stronger

Escrever ou deixar pra lá.

Estou de TPM, não estou preocupada com a coerência, não estou preocupada em escrever um bom texto. Não é nenhum concurso.

Justificar é meio chato e tal.

Lembro de ter uma época mesmo em que as pessoas não consideravam as profissões ligadas a arte como "profissão de verdade". Música, desenho, pintura, escultura, escrita, cinema. Mas ultimamente tenho visto muitas pessoas dizerem que ser artista é que é legal e que o chato é ter uma profissão "normal". Chato é ficar num escritório, dia após dia, na frente do computador, lidando com números e letras que não são muito além disso: números e letras.

Porque não é possível que uma pessoa seja feliz e fique são se todos os dias ela faz a mesma coisa no mesmo lugar com as mesmas pessoas, e as mesmas metas, e as mesmas cobranças, e...

...E que seria um absurdo se vangloriar de ter uma profissão dessas. Magina. Ser cool é ser artista, fazer seu próprio horário, e a grana? Grana não é importante, importante é ser feliz! Legal não é morar na cidade grande, pegar horas de trânsito todo dia, ônibus lotado, poluição. Legal é morar no interior, sem internet, sem trânsito e viver, sei lá, de artesanato.

É. Mas quem paga suas contas?

Se é o artesanato, a pintura, o desenho, o cinema, e você faz o que gosta, ótimo. Parabéns, você é uma pessoa que trabalha com o que gosta e se sustenta com isso. Mas outros milhões não.

E não é possível que esses outros milhões sejam felizes! Afinal eles são só milhões de pessoas com vidas iguais e sem graça.

Mas as pessoas podem ser felizes tendo trabalhos "sem graça". O contador, a bancária, a caixa do Carrefour, o faxineiro da escola, a recepcionista da faculdade, o porteiro do seu prédio, nenhum deles é feliz? Oi, nem todo mundo é "artista".

E nem todo artista se sustenta com a sua arte.

Por que eu deveria ter vergonha de dizer que me formei em audiovisual, mas não me sustento com a atividade? Significa que eu desisti, que eu me iludi, que eu não sou boa o suficiente naquilo que eu gosto de fazer?

Quando eu era adolescente costumava dizer pra quem quisesse ouvir - inclusive pra mim mesma - que não importava o que você quisesse ser, o que quisesse exercer como profissão, que pra ser bem sucedido você teria que ser bom no que faz. E se destacar. E ir atrás, se esforçar e nunca desistir.

É, parecia fácil.

É fácil dizer que dinheiro não importa, mas quando você tem que conquistar tudo pelo próprio esforço, não é bem assim que a coisa funciona. É fácil dizer que não se dever desistir nunca, mesmo quando uma porta se fecha, mas ver a porta fechando ali na sua frente é um pouco diferente. É fácil falar em greve quando se está na faculdade, mas quando você está no tal mercado de trabalho, se vendo obrigado a fazer alguma coisa pra que um mínimo de dignidade e consideração seja concedido à sua classe, também é diferente.

(E é muito fácil reclamar da greve alheia quando o seu não está na reta. Mas isso é outro assunto.)

Eu não desisti. Mas ver gente falando o quão legal é deixar pra lá o dinheiro e a vida na cidade grande e ser aquilo que você gostaria de ser, ao invés de ter mais um emprego "igual a milhares de outros", parece que eu não estou me esforçando o suficiente. Que não estou fazendo o que deveria fazer, os sacrifícios que eu deveria fazer pra ir atrás do meu sonho.

Só que às vezes a pessoa não pode se dar ao luxo de alguns sacrifícios. Às vezes, o dinheiro importa sim. Às vezes, você só encontra espaço ali na cidade grande, poluída, lotada e congestionada.

E eu realmente continuo tentando. Talvez eu precise tentar mais. Ficar melhor. Agir mais rápido. Ser mais forte.

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